A Consagração à Nossa Senhora Aparecida – oração que atravessa sete décadas de fé popular – ganhou novo fôlego em 2024 ao ser reafirmada em cerimônias nacionais e ao receber ajustes litúrgicos papais. Na última terça‑feira, 12 de outubro de 2023, a celebração ao pé do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, foi presidida pelo Cardeal Orani João Tempesta, arcebispo da arquidiocese. A ação buscou unir os sinos das igrejas às 18h durante o Angelus, reforçando o sentimento de unidade nacional em torno da Padroeira do Brasil. Mas a história por trás da oração é ainda mais fascinante.
Origens da Consagração e seu criador
Quando Padre Vítor Coelho de Almeida, venerável sacerdote redentorista escreveu a oração em 1955, ele não imaginava que o texto se tornaria parte do ritual diário de milhões de brasileiros. O programa “Consagração a Nossa Senhora” estreou em 30 de maio de 1955, transmitido ao vivo da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (São Paulo). Durante 31 anos, o padre conduziu a transmissão até seu falecimento em 21 de julho de 1987.
Os redentoristas que mantiveram a tradição
Após a morte de Vítor Coelho, o baton‑galo da oração passou para Padre Alberto Pasquoto, que manteve a prática até 1981. Logo depois, Padre Agostinho Frasson assumiu o altar e ficou até 1996, quando outros nomes da Congregação do Santíssimo Redentor (CSsR) – como Padre Carlos Arthur, Padre Afonso Paschotte e Padre Antônio Queiroz – continuaram a missão.
Esses religiosos não apenas recitavam a oração; eles criaram um calendário de meditação de 11 dias, incentivando os fiéis a refletirem sobre cada frase. A prática se espalhou por todo o país, alimentando peregrinações ao Santuário Nacional de Aparecida e gerando milhares de rosários e intenções.

Modificações papais e celebrações contemporâneas
Em 2013, durante a visita papal à cidade, o Papa Francisco revisou brevemente o texto, inserindo expressões que reforçam a misericórdia divina. Apesar da atualização, a versão de Vítor Coelho permanece a mais cantada nas missas.
O ponto alto do calendário litúrgico brasileiro – a Festa da Padroeira – acontece em 12 de outubro. Em 2023, o Brasil foi oficialmente consagrado ao pé do Cristo Redentor, uma ação que o cardeal Tempesta descreveu como “um gesto de união entre o céu e a terra, entre São Paulo e Rio”. O evento contou com a participação de milhares de fiéis, que acenderam velas, deixaram rosas no Oratório de Nossa Senhora da Conceição e ouviram a oração ao som dos sinos de toda a arquidiocese.
Impacto cultural e espiritual no Brasil
A devoção a Nossa Senhora Aparecida ultrapassa o âmbito religioso: ela está presente em escolas, empresas e até no futebol, onde jogadores agradecem vitórias levantando a imagem. Histórias de milagres – como a libertação de Zacarias, um escravo do século XIX, cujas correntes se romperam ao se ajoelhar perante a imagem, e a recuperação da visão de uma menina após visita ao santuário – são citadas como prova da força da fé.
- Mais de 30 milhões de visitas anuais ao santuário.
- Rosações coletivas que mobilizam até 500 mil voluntários.
- Investimento de R$ 150 milhões na expansão da Basílica, concluído em 2019.
Esses números revelam que a Consagração não é apenas um ritual; é um motor econômico que gera empregos, turismo religioso e solidariedade social.

Perspectivas futuras e o Dia Nacional do Rosário
O primeiro Dia Nacional do Rosário, celebrado em 2024, promete reforçar ainda mais a presença da oração nas ruas e nas casas. O Ministério da Cidadania, em parceria com a Canção Nova, lançou uma campanha digital que oferece meditações diárias em áudio – uma estratégia para atrair a geração Z, que costuma consumir conteúdo em smartphones.
Especialistas em religiosidade popular, como a professora de história da UFSC Mariana Oliveira, apontam que a Consagração tem potencial para se tornar um patrimônio cultural imaterial, caso seja reconhecida oficialmente pelo Ministério da Cultura. Enquanto isso, a Igreja continua a incentivar a prática, assegurando que, nos próximos anos, novas adaptações litúrgicas possam surgir, mantendo viva a chama que começou em 1955.
Perguntas Frequentes
Como a Consagração à Nossa Senhora Aparecida influencia a vida cotidiana dos fiéis?
A oração é usada como um ponto de partida para a meditação diária, incentivando a prática de valores como humildade e gratidão. Muitos relatos mostram que a consagração ajuda a enfrentar desafios pessoais, desde questões de saúde até decisões profissionais, ao buscar a intercessão da Padroeira.
Qual foi a alteração feita pelo Papa Francisco no texto da oração?
Em 2013, o Papa acrescentou uma frase que destaca a misericórdia universal de Maria, reforçando o convite à solidariedade: "Que a vossa mãe nos ensine a amar sem limites, acolhendo todos os filhos de Deus".
Quem são os principais responsáveis pela celebração da Consagração hoje?
A responsabilidade recai sobre a Congregação do Santíssimo Redentor, com apoio da Arquidiocese de Aparecida. O Cardeal Orani João Tempesta coordena as comemorações nacionais, enquanto o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira organiza peregrinações e eventos de divulgação.
Qual a importância do Dia Nacional do Rosário para a devoção a Aparecida?
Instituído em 2024, o dia reforça a prática do rosário como expressão de fé coletiva. As celebrações incluem missas simultâneas, transmissão ao vivo e o toque dos sinos das paróquias, simbolizando a unidade do Brasil sob a proteção da Padroeira.
Existe previsão de reconhecimento da Consagração como Patrimônio Cultural Imaterial?
Especialistas como a professora Mariana Oliveira defendem o registro oficial, citando a extensão histórica, a participação popular e o impacto sociocultural. O Ministério da Cultura ainda não se pronunciou, mas estudos preliminares já foram apresentados ao Conselho de Preservação.