Um encontro rápido, mas carregado de significado
Durante o plenário da 80ª Assembleia Geral da ONU, em 23 de setembro de 2025, Donald Trump dedicou cerca de dois minutos ao Brasil. O discurso foi breve: elogiou a "excelente química" que teria sentido ao cumprimentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por, no máximo, 39 segundos. O gesto de apertar as mãos e o convite para uma nova reunião, que ocorreria na semana seguinte, pareciam sinal de abertura diplomática.
Entretanto, a mensagem continha duas facetas distintas. Enquanto Trump falava de admiração, também criticava políticas internas brasileiras, acusando o país de ameaçar liberdades e perseguir cidadãos. Mais impactante foi a defesa das tarifas de 50% impostas aos produtos brasileiros – medida que ele justificou como reação a "esforços sem precedentes" de interferência nos direitos americanos.

Estratégia de pressão e o dilema de Lula
A postura de Trump revela uma estratégia de negociação baseada em pressão econômica. Ao oferecer diálogo, ele mantém as tarifas como alavanca, forçando o Brasil a aceitar condições que pareçam vitória para sua administração. Para o governo brasileiro, a situação se assemelha a um tabuleiro de xadrez onde as peças são movidas por interesses comerciais mais que por afinidade política.
O Ministério das Relações Exteriores, representado por Mauro Vieira, indicou que a próxima conversa provavelmente será feita por telefone ou videoconferência. No Planalto, porém, há cautela. A imprevisibilidade de Trump lembra o episódio de fevereiro, quando o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky foi humilhado ao vivo por ele. Diplomaticamente, o Brasil teme repetir esse constrangimento.
Outro ponto que complica a relação é o apoio de Lula à candidata Kamala Harris nas eleições americanas de 2024 e suas críticas abertas a Trump, rotulando-o de fascista. Essas declarações geraram ressentimento em Washington e criaram um clima de desconfiança que agora precisa ser gerido.
Com as novas medidas retaliatórias contra autoridades brasileiras e as tarifas ainda em vigor, a iniciativa de Trump chega num momento de força. O Brasil, por sua vez, busca uma abordagem pragmática: manter a eficácia nas negociações e assegurar que não haja perdas significativas para a economia nacional.
Para Lula, o desafio é duplo: proteger os interesses econômicos sem parecer submisso e, ao mesmo tempo, evitar humilhações públicas que possam enfraquecer sua posição interna. O próximo encontro será, portanto, uma espécie de teste: será possível encontrar um meio‑termo que satisfaça ambas as partes, ou o Brasil será arrastado para um “armadilha diplomática” cuidadosamente planejada?
Enquanto isso, analistas acompanham de perto os desdobramentos. A expectativa é que, se houver concessões, elas venham acompanhadas de contrapartidas para o Brasil, como reduções de barreiras não‑tarifárias ou acordos setoriais. Caso contrário, o país pode optar por diversificar parceiros comerciais, reduzindo a dependência do mercado norte‑americano.
O cenário internacional ainda está em formação, e cada movimento de Trump tem repercussões imediatas nas relações multilaterais. O que fica claro é que a diplomacia brasileira precisará de flexibilidade e rapidez para responder a um presidente que mistura elogios públicos com pressões econômicas intensas.